Quando o executivo Raphael Covre deixou o comando da Casa do Adubo no ano passado, após o negócio familiar ser vendido por mais de R$ 1 bilhão à multinacional Nutrien, ele atendia aos pré-requisitos para ingressar em outras companhias do setor agrícola. No entanto, Covre preferiu estudar bem os movimentos seguintes.
“Dizem que quando queremos ver a ilha, a gente precisa sair dela”, disse Covre, citando o escritor José Saramago ao anunciar seu retorno ao ecossistema dos insumos. Ele assumiu uma cadeira no conselho administrativo da fintech Culttivo, especializada em financiamento para produtos de café.
O empresário conheceu dois dos cofundadores da agtech — Gustavo Foz (diretor-presidente) e Gabriel Santos (diretor de operações) — quando ainda trabalhava no mercado financeiro, há cerca de 20 anos.
Ainda que informalmente, os diretores da Culttivo já se beneficiavam dos conselhos e experiências compartilhadas por Covre. “A gente via nele alguém inconformado com a burocracia do sistema de crédito, assim como nós”, diz Santos. “E ele pode agregar outras experiências que teve na Casa do Adubo para gente tracionar”, avalia Gustavo Foz.
Tracionar é algo que Covre soube fazer bem na Casa do Adubo. Em uma década sob sua gestão, a receita da revenda especializada em pequenos e médios produtores rurais aumentou em mais de 16 vezes.
Dedicada à cafeicultura, a Culttivo tem um público-alvo bastante parecido com o que o conselheiro aprendeu a atender. “É um mercado tradicionalmente de pequenos e médios, então você tem que estar próximo deles. São muito diferentes, porque mesmo dentro de Estados e regiões existem os microclimas”, afirma Covre.
Segundo o executivo, a estratégia de segmentar o serviço permitirá que a plataforma se diferencie das generalistas. “A gente precisa entender como melhorar a jornada do produtor, é o onde vejo que muitas startups falham”, diz.
Covre defende que a tecnologia precisa minimizar a morosidade no processo de empréstimo. É preciso também ser flexível para reagir a mudanças no mercado de café, que podem exigir que o produtor adie o pagamento do empréstimo em caso de atraso na colheita, por exemplo. “Se você entende isso, você o fideliza”, afirma.
O novo conselheiro da Culttivo também promete ser mais uma ponte para o mercado financeiro, de onde acredita que devem sair cada vez mais recursos para o setor agrícola. “A Faria Lima toda está querendo ser agro, mas ainda é preciso fazê-los entender como funciona o campo”, reconhece.