Agfintechs: A um toque de modernizar o campo

31/03/2022

Por Gabriel Santos*

Se durante a pandemia, a atividade industrial e o ramo de serviços encolheram no país, o agronegócio, representado principalmente pelo pequeno e médio produtor, continuou crescendo e foi um dos setores que mais cativou os investidores nos últimos dois anos. Afinal, números não mentem: segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD), realizada pelo IBGE, no 4º semestre de 2021, a atividade agrícola deu um salto de 6,8% entre as dez maiores atividades pesquisadas pelo censo. Em termos totais, hoje, o setor, junto com a pesca e a aquicultura, emprega diretamente mais de 9 milhões de pessoas.

Parece pouco quando falamos de um país com dimensões continentais como o Brasil, mas se olharmos mais atentamente à cadeia que a  produção agrícola está inserida (transportes, produção de insumos, abastecimento de supermercados), estamos falando de uma atividade que absorve quase 20 milhões de trabalhadores e que, segundo a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), movimentou mais de US$ 104 bilhões em 2021. O sucesso do setor, contudo, não é isolado. Segundo pesquisa da Embrapa, de 2020 para cá, os bons resultados colhidos pelo agronegócio se devem, em grande parte, à adoção de novas tecnologias.

Novos horizontes

Desde a implementação de novas técnicas agrícolas à adoção de drones para monitoramento da fazenda e controle de pragas, a sinergia entre inovações tecnológicas e soluções criativas tem rendido bons frutos para o agronegócio. A maior prova disso é que, nos últimos anos, as transformações deixaram de ser uma exclusividade do setor de cultivo e passaram a integrar o ambiente organizacional das fazendas, sobretudo por meio do uso de soluções digitais e de ferramentas integradas à nuvem.

A percepção equivocada de um agricultor desinteressado pela informatização dos negócios felizmente ficou no passado. Segundo relatório elaborado pela Embrapa, Sebrae e Inpe, atualmente mais de 84% dos produtores brasileiros usam alguma ferramenta digital para auxiliar a produtividade. No entanto, a maioria utiliza o ambiente virtual exclusivamente para se informar sobre as novidades do mercado ou comercializar sua produção via redes sociais. Dos 750 agricultores ouvidos pela pesquisa, que em sua maioria cultivam áreas de mais de 50 ha, uma parcela mínima (22%) se beneficia de aplicativos de gestão e organização da colheita.

A análise fica mais curiosa quando se olha para os motivos dos produtores não aderirem à tecnologia. Se por um lado mais de 67% considera que os custos altos para implementação da tecnologia impedem a modernização; por outro, mais de dois quintos dos agricultores desconhecem a existência de ferramentas de gestão informatizada. Logo, o problema dos agricultores não está em reunir recursos para financiar soluções digitais ou na dificuldade de entender a importância do investimento, mas sim em seu desconhecimento dos benefícios proporcionados por essas plataformas.

Plataformas digitais como sinônimo de produtividade

À primeira vista, quando entramos no assunto de plataformas digitais temos a impressão de falar sobre algo muito distante da realidade brasileira, no entanto, essas inovações estão mais próximas de nós do que parecem. Segundo o estudo a “Cabeça do Agricultor Brasileiro na Era Digital Pulso 2021”, realizado pela Mckinsey, 58% dos produtores têm seus negócios baseados em modelos on-line, tanto para facilitar o acesso a marketplaces quanto para modernizar a logística e planificação de negócios.

Embora muitas fazendas ainda sofram com o acesso restrito à internet, o estudo pontua que a nova leva de agricultores, jovens entre 35 e 45 anos, acredita que o futuro de seus negócios está na integração de planejamento, soluções e insights em um único aplicativo. Seja por apresentar as melhores condições meteorológicas para o plantio, analisar a dinâmica do mercado de commodities, aumentar a produtividade de fazenda por meio de uma agricultura de precisão ou até financiar a próxima colheita. Não à toa, empresas baseadas em soluções digitais, as conhecidas Agtechs, já tem 299 representantes no mercado, de acordo com pesquisa da Abstartups.

Com efeito, segundo relatório da consultoria 360 Research & Reports, o setor espera movimentar cerca de R$ 46,5 bilhões até 2026, data em que haverá uma maior integração entre software, hardwares e, sobretudo, uma importante mudança cultural entre os produtores. O que mostra que, nos próximos anos, o agro não será só tech. O agronegócio é e será cada vez mais integrado, conectado e norteado por um ecossistema de fintechs e agritechs com conhecimento de mercado e soluções de ponta. Do campo para o futuro, a modernização é o adubo para uma colheita sadia e perene.

*Gabriel Santos é COO (Chief Operating Officer) e cofundador da Culttivo, startup que garante financiamento 100% online para produtores de café em um prazo muito menor que os bancos tradicionais.

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